quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A porta-bandeira do astronauta

Esta semana, aconteceu algo um tanto mais inusitado que as patalhadas em que me enfio normalmente. Algo um pouco mais ridículo. E, é claro, depois do meu olho roxo no pagode, eu tinha de ser a protagonista novamente. Holofotes sobre mim!!

Estava eu trabalhando tranqüila, sentadinha à minha mesa, convidando alguns jornalistas para a festa de confraternização de fim de ano da associação onde eu trabalho. Evento grandioso, com a participação de mais de 2500 convidados, autoridades do setor, as maiores empresas... enfim... party bastante importante em nosso segmento.

Estávamos em uma semana de loucura: fechamento de revista, produção de vídeo institucional, tínhamos de adiantar os jornais das férias, enfim, correria louca, isso sem falar do lançamento do CD da banda que assesso.

No meio da minha insanidade, fui interrompida pelo diretor de eventos: “Você poderia dar uma palavrinha comigo? Tenho uma missão pra você”. Eu pensei “lá vem bomba” porque esse simpático senhor adora me meter em trapalhadas. Na semana anterior, eu tinha passado a maior vergonha quando ele, muito empolgado, me fez falar francês no meio de todo mundo, com o amigo dele internacional, só porque acha bonito. Mas por mais que previsse um grande mico, não podia imaginar a dimensão do ridículo.

“Quero que você entre com a bandeira na frente do astronauta”. Como assim?? Sim, o grande evento, cujo tema era o mundo country, misturava homenageados dos mais incompatíveis: os atletas paraolímpicos, os mentores do museu do Frei Galvão, primeiro santo brasileiro e o astronauta Marcos Pontes, fora da mídia há mais de um ano. Ah, também desfrutamos de um super show de um cover do Elvis Presley.

O diretor de eventos explicou: “Quero você de vestido longo, ficará fazendo companhia ao astronauta atrás do palco. Na hora da homenagem, vão dar a volta por trás do salão e entrar no auditório. Você vai à frente balançando a bandeira do Brasil... pra lá... pra cá...; vão entrar pelo meio do auditório, depois da posse da nova diretoria”. Que mico, quase tive um treco. “Você topa, madeimoselle? Não pode ter ninguém melhor. E olha que honra! Vai segurar a bandeira para o nosso cosmonauta tão querido! Orgulho nacional! Vai carregar todo nosso sentimento de brasilidade...”. E eu não sabia como segurar o riso.

Saí da sala dele e corri pra mesa da da minha colega de trabalho, que já sabia de tudo e não tivera tempo de me contar. “Quem manda você ser a bonequinha, pelo menos você não terá de entrar vestida de astronauta...”, gozou da minha cara. Puta merda, a assessora de imprensa fazendo sala pro cosmonauta em fim de carreira. E eu que tinha tirado uma da cara de uma minha amiga, que faz eventos e que ia ficar no palco. Ri dela e a chamei de vaso. Pior era ser a porta-bandeira do astronauta!

Durante o evento, que demorou muitíssimo pra começar, aconteceu de tudo. E a essa altura, todo mundo já sabia da minha missão espacial. Os comentários eram os piores “lá vai a assessora de imprensa, de roupa de Oscar, carregando a bandeira pro astronauta mais inútil do sistema solar...”.

No momento solene, tudo deu certo. Ele me deu um beijinho no rosto e saímos pelo meio do auditório. Cena tosca, eu com aquela minha típica cara de boneco. Me senti no espaço, flutuando... sensação inesquecível de idiota. Eu era uma palhaça... ainda bem que adoro rir de mim mesma. No caminho de volta para os fundos do evento, vários velhos babões perguntavam “o que tenho que fazer pra você segurar a bandeira do Brasil pra mim até o palco?”. Ainda tive de agüentar essas piadinhas, pode?

Mériclaynes

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

A tiete que reflete

Muitos sabem que sou verdadeira amante do futebol. Vou ao estádio, torço ferozmente pelo meu time do coração, acompanho a maioria dos campeonatos e, como toda boa brasileira, tenho um interesse especial pela seleção brasileira. E para minha felicidade, a seleção jogaria na minha cidade na última semana.

Assim que soube da presença da (discutível) elite do futebol brasileiro armei todo um esquema para acompanhá-la: ir ao estádio, assistir aos treinos, tudo – conforme manda o figurino. Porém minhas tentativas neste aspecto foram em vão.

No dia da venda dos ingressos para o jogo, rumei para a bilheteria com certa antecedência para conseguir as entradas, só que para minha surpresa e raiva, tudo acabou em poucas horas e algumas pessoas na minha frente.

Só conseguiria entrar no estádio comprando o ingresso de algum cambista que praticasse juros exorbitantes, bem acima do meu cheque especial ou cartão de crédito. Confesso que minha vontade era de trombar com tal “contraventor”, enchê-lo de pancada e pegar todos os ingressos dele – Perdeu, playboy! Você é um fanfarrão! Pede pra sair!

Conformada com a minha não ida ao jogo, restava me contentar com o treino que seria aberto ao público no estádio. Pensando que seria como o jogo ocorrido em outra cidade: comprei um quilo de alimento não perecível e rumei para o dito local.

Uma verdadeira muvuca estava armada na frente do estádio: carros de emissoras de tv, polícia e vários torcedores, como eu, munidos de seu feijão, açúcar e arroz. Porém demos com a cara no portão!

Diante daquela confusão, não sabia o que fazer, então circundei o estádio e vi um dos acessos aberto – era por onde a rede de lanchonetes que atende o local entregava seus quitutes no momento do início do treino. Não pensei duas vezes, adentrei ao recinto, me acomodei na arquibancada e por ali fiquei por menos de quinze minutos.

Por uma exigência ridícula de alguém que não sei quem aquele treino de reconhecimento do campo não poderia ser visto pela massa de não-jornalistas que me seguiram e entraram no estádio, e por isso a polícia enxotou os torcedores da arquibancada, inclusive eu.

- Deixe o recinto, moça!
- Mas por quê? Eu quero ver o treino!
- O treino não é aberto. É proibido ficar aqui hoje! Como você entrou?
- Ué, pelo portão! Onde mais? Ou você acha que sou mulher de ficar pulando portão, seu policial? – E fui embora dali a passos fortes.

Porém nem tudo foi perdido na minha investida de torcedora fanática. Em todas estas investidas tive a companhia de um amigo meu, que ficou algumas horas na fila de ingressos e invadiu o estádio para assistir ao treino comigo - ele também é amante de futebol, se não fosse, não teria acatado minha brilhante e maluca idéia de ver a seleção no hotel - e foi isso que salvou o dia!

Combinamos ir ao hotel ver a seleção antes de partir para o treino de reconhecimento do campo; só dessa forma veríamos os jogadores de algum jeito.

Chegando ao hotel deparei com aquele circo de jornalistas esportivos, complementado por uma dupla de comediantes, uma ex-modelo repórter de programa de fofocas e várias adolescentes alucinadas, insanas e com gogós bem potentes. Pensei: Putz, e agora? - Depois de tantas tentativas frustradas, a única coisa que eu queria era ver a única celebridade merecedora da minha admiração.

Não é ator, autor, cantor, um artista qualquer, mas sim um artista da bola. Embora meio esquecido pela imprensa e no banco de reservas da seleção desde a Copa América; nutro por ele uma admiração incondicional. Não chega a ser uma tietagem, pois não sou do tipo de pessoa que grita por qualquer um, mas um desejo de querer conhecer a pessoa, conversar, saber como ela é fora do ambiente que envolve as quatro linhas do campo.

Depois da entrada naquele espetáculo montado a céu aberto na frente do hotel, passei a reparar no que estava ao redor: o ônibus da seleção à direita e um mini-campo de golfe à esquerda, que pouco chamou minha atenção. Porém o amigo que me acompanhava reparou numa coisa que não havia reparado naquele campinho: quem jogava, e me chamou:

- Dá só uma olhada!, e apontou
- Tá zuando! – Sim! Era ele!

Na hora não sei que turbilhão de emoções tomou conta do meu corpo. Não sabia o que fazer a não ser olhar meu admirado e pensar: Por favor, seja um cara estúpido bem escroto, para eu parar com essa admiração, contrárias às minhas concepções que negam qualquer forma de tietagem. Acho isso tão ridículo!

Mas para saber se o cara era um estúpido escroto tinha que me aproximar dele. Cheguei a um câmera que filmava o meio-campista reserva e o goleiro titular jogando golfe, e perguntei:

- Será que eles se incomodam de eu pedir para tirar uma foto com eles?
- O máximo que você pode ouvir é um não.

Na hora meu amigo interfere:

- Vai lá! Tenho certeza que você nunca receberá um não.

Entreguei minha alma a Deus, a máquina fotográfica para meu amigo, respirei fundo e caminhei em direção ao jogador. Quando estava na metade do trajeto, o jogador olha na minha direção; vendo que aquela era a minha deixa, disparei:

- Por favor, você pode tirar uma foto comigo?

Ele abre um largo e lindo sorriso e diz: Claro! - Poxa! Não estava nos meus planos ele ser simpático e receptivo. Mal sabia eu que tudo que arquitetara desabaria em poucos segundos.

Ao nos aproximarmos me apresentei e o cumprimentei como é de praxe em terras paulistanas: um encosto de rostos; só que ele me ofereceu a outra face e eu estalei um beijo na sua bochecha esquerda, sentindo que sua barba nem espeta e marcando sua face com meu batom. Por instinto natural, sublimo a mancha colorida feita pela minha boca com os dedos e reparo no quanto este gesto é carregado de carinho e afetividade.

É hora da foto, faço um malabarismo corporal para ficar mais baixa que ele e ele circunda minha cintura com seu braço. Faço o mesmo: encosto minha mão em suas costas, mas reparo que minha mão não obedecia e tremia de forma incontrolável. Atentando para isso afasto-a para que ele não perceba minha falta de controle corporal.

Nos despedimos e me afasto. É neste momento que percebo que em situações de emoção extrema não tenho algum controle do meu corpo: começo a pular, a dançar, a sorrir e sinto meu coração disparar. Reação equiparada naqueles primeiros beijos de paixão adolescente.

O goleiro titular pede para que eu saia da direção da bola de golfe a ser lançada, pois a mesma poderia me machucar. Pensei: pode jogar o que você quiser não tô sentindo meu corpo mesmo... E saí do mini-campo.

De longe, observo aquele jogador que tanto me fascina, e reflito: “ele tem tudo que eu gosto num homem e é tudo que eu não quero pra mim: ele é mais baixo que eu, mais novo que eu, mas em compensação, tem um sorriso lindo, os olhinhos pequenos, covinha no rosto, uma pele gostosa, um corpo bem torneado, um carisma absurdo, além de aparentar ter aquela pegada!”

Confesso que a idéia de dar meu telefone pra ele passou pela minha cabeça, mas já era tarde – também, de tanto refletir... – ele tinha rumado para dentro do hotel e seguiria para seu treino de reconhecimento.

Até tentei uma outra aproximação na ida ou na volta do famigerado treino, mas não consegui entregar o papelzinho com meus números rabiscados. Isso ficará para uma outra oportunidade. Porém tenho consciência de que este novo encontro não será a mesma coisa, afinal de contas, os momentos sublimes e verdadeiramente inesquecíveis só acontecem uma vez!

Marusquella

terça-feira, 13 de novembro de 2007

A desculpa do tatu

Sei que quando bebo faço coisas que possam vir a me arrepender depois, mas desta vez isto não aconteceu: bebi demais, fiz besteira, mas não me arrependo.

Faz um tempo que estou com um affaire com um rapaz, que de início parecia um cara bacana, comprometido com as coisas e comigo. Só que não sei o que aconteceu que de repente, ele sumiu.

Já estava acostumada com seus foras, seus bolos e suas desculpas esfarrapadas. Até engoli a vez que nos encontramos certa véspera de feriado e combinamos de viajar no final de semana seguinte para aproveitarmos a praia com mais calma, sem a muvuca da alta temporada.

Na ocasião, ele ficou de me ligar durante a semana para acertamos todos os detalhes da nossa viagenzinha romantiquinha. A semana passou e nada do dito moço ligar. Poxa! Mulher precisa providenciar uma série de coisas, como depilação, biquínis, malas, etc. Não é que nem homem que basta enfiar na mochila carcomida do colegial qualquer cueca rasgada ou bermuda manchada de cândida, que já está pronto para aproveitar o mar.

Ele só me ligou na sexta-feira, dia do passeio combinado, falando que poderíamos nos ver. Na hora percebi que aproveitar o sol litorâneo não aconteceria nos dias seguintes. Pra completar, o cara me deu outro bolo e eu fiquei comendo pipoca e chupando o dedo em casa durante o final de semana.

Desde este dia prometi pra mim que nunca mais procuraria esse ser humano enrolado e que estava me enrolando há tanto tempo.

Mas acontece que quando a gente bebe umas coisinhas alcoólicas a mais a gente acaba esquecendo as promessas que nos fizemos no passado, e eu acabei ligando pra ele de novo.

No alto da minha bebedeira, eu tinha consciência que corria o risco de não ser atendida, mas quando eu menos esperava e quando já quase desistia, o cara atendeu o bendito celular.

- Oi, gata, como você está?
- Eu estou bem! E você? - falando daquele jeito típico bem mole, com pouco controle dos músculos da boca.
- Estou aqui na USP Lost, tive aula até agora – já era tarde da noite.
- Ahn tá...
- Meu, você não sabe... acho que não vou conseguir chegar cedo em casa.
- Porque? Seu carro quebrou?
- Não! Tem um tatu debaixo do meu carro.
- Como é que é? - o baque foi tão grande que parte da sobriedade voltou para o meu corpo, e continuei:
- Você acha que eu vou acreditar nessa história de tatu? Deixa de ser idiota e achar que eu sempre vou acreditar nas suas desculpas! Essa foi demais! – e desliguei o celular, indignada.

Poucas horas depois passei mal. Não sei se foi por causa da cerveja, ou do amendoim, ou da calabresa, mas acho, sinceramente, que o culpado de tudo foi o tatu, o inofensivo animal rastejante, que estava entalado na minha garganta e que tinha que ser colocado pra fora, junto com o canalha que queria salvá-lo. Ambos saíram da minha vida descarga abaixo.

Marusquella

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Homem Freak-Show ou Pêlos, às vezes é bom tê-los

Diferente dos outros causos narrados aqui, este relata um acontecimento que não passou conosco, porém nos atingiu diretamente, mas mesmo assim escreveremos em primeira pessoa.

Fazia um tempo que eu ficava com um cara do meu trabalho. Ele era um fofo, gostoso, atencioso, mas mal sabia eu que ele tinha um defeito – e que defeito: era noivo! E pra minha maior surpresa, ia se casar em pouco tempo. Fiquei indignada quando soube do fato e fiquei mais puta ainda quando recebo um convite para o devido casamento. Que cara de pau!

Para provar pro cara e pra mim mesma que era superior, resolvi ir à cerimônia, mas com quem? A companhia feminina era garantida, já que a maioria das minhas colegas de trabalho também foram convidadas, mas eu era - pra minha surpresa – amante do noivo. Não poderia ir sem um acompanhante do sexo masculino.

Daí a odisséia: ligar para todos os homens da minha agenda de telefones que topariam fazer um teatrinho e causar ciúmes naquele canalha que tanto mentiu pra mim. Nada! Por que nessas horas todos têm compromissos, namoradas ou namorados? Tive que recorrer à ajuda das amigas de verdade, que sempre têm uma solução pra dar, e a solução encontrada foi o primo de uma grande amiga.

O cara era gente boa, simpático e não fazia feio (de terno, todo homem é bonito), e topou me acompanhar naquela cerimônia onde eu tinha que sair por cima da carne seca de salto alto.

Nos encontramos nas imediações do salão de festas e ele encenou muito bem. Dançou comigo, foi super delicado, um cavalheiro e ainda ficou ao meu lado na hora de cumprimentar os noivos, dando pinta de que estávamos juntos e até apaixonadinhos. Na hora vi a cara de indignação do noivo... hum... a vingança tem um sabor gostoso...

Mas festa de casamento é aquela coisa: sempre acontece algo que nos surpreende. E o que me surpreendeu foi o um teor a mais de álcool no meu sangue que fez com que eu beijasse o grande ator daquela noite, o vencedor do Oscar, o primo da minha amiga.

E não é que o mocinho gostou? Ficamos juntos o restante da festa, ele me deixou em casa e ainda me ligou no dia seguinte. Tá certo!,... eu estava carente e com o orgulho ferido, mas ele fez por merecer: foi elegante, gentleman e não era de se jogar fora – dois dias depois do casamento, estávamos namorando.

Nos vimos poucas vezes depois da cerimônia e qualquer oportunidade que tínhamos de nos encontrar era válida: almoço, cinema, só que nada mais íntimo, devido às agendas malucas da nossa rotina. Só algumas semanas depois apareceu uma oportunidade de ficarmos um bom tempo juntos: haveria um evento da minha empresa num hotel fazenda de uma cidade do interior, onde eu tinha que estar presente, mas eu poderia levar um acompanhante. E a primeira pessoa que veio à cabeça para convidar foi meu namorado, claro! Chamei e ele aceitou.

Durante o final de semana poderíamos aproveitar tudo que a hospedagem nos oferecia durante o dia, já que à noite era o período que o evento empresarial era realizado. Chegamos ao hotel, na sexta-feira à noite, podres de cansados, não resistimos, e cada um virou pra um lado e capotou. No sábado, amanhece um dia ensolarado e lindo, que pede: piscina!

Levanto e chamo meu mocinho. Ele diz pra eu ir tomar café que ele logo desce. Faço o que ele manda, mas ele demora e volto ao quarto para chamá-lo novamente. Entro no quarto e vejo a porta do banheiro entreaberta, preocupada, avanço e flagro o rapaz cortando os pêlos do sovaco com uma tesourinha de cortar unha. Não agüento, e disparo:

- O que é isso?
- Odeio pêlos, odeio pêlos! – e continua sua sessão de tosa.

É nesse momento que reparo no espelho seu peito com a pele irritada por uma gilete que acabara de eliminar os pêlos peitorais. Pensei: ahn, tudo bem! Ele deve ser metrossexual; essa coisa tá na moda mesmo... E deixei por isso. Aproveitamos a piscina e todos os banquetes do evento, que terminou relativamente cedo.

O dia acaba e todos vão para seu quartos. É claro que o clima esquenta. Estava carente de carinho masculino e ele também parecia estar afim.

Tudo ia muito bem e bem gostosinho até a hora que eu inventei de avançar o sinal; nessa, o cara também se empolga, tira toda a roupa e se põe na minha frente, completamente nu.

Que horror! Queria soltar os gritos de todos os filmes do Hitchcock quando vi aquilo na minha frente. O cara estava nu e completamente pelado! Pelado, quero dizer: sem pêlos. Ele não raspava os membros inferiores e superiores, mas o membro central, que era o que mais me interessaria naquele momento, ele raspava. Tudo! Parecia o palhaço Carequinha!

Ao ver aquilo, não agüentei e comecei a rir um riso que não dava pra disfarçar. Era um misto de espanto, com decepção, com vontade de chorar. Eu estava de cara com um artista de circo de bizarrices, um verdadeiro homem freak show!

Respirei fundo, tentei recuperar a calma e continuar aquilo que tínhamos começado a fazer antes da minha crise de riso. Continuamos... quer dizer, continuar o quê? No meio da brincadeira, o cara broxa? Ahn não! Pra mim isso já é demais. O que eu estou fazendo aqui?

Estava namorando um cara maluco, completamente depilado e ainda broxa?

Não nos falamos durante toda a viagem de volta e a primeira e última coisa que falamos depois daquele pesadelo foi: não dá mais pra continuar. E o namoro acabou.

Não dava mais pra eu continuar com um cara bizarro, broxa, doido e que tinha o palhaço Carequinha no meio das pernas.

Marusquella e Mériclaynes

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Tá em família, tá em casa

A maioria das garotas, salvo algumas exceções, já tiveram algum sonho com um primo, nem que seja nos remotos e românticos tempos de adolescência. Pode ser aquele familiar distante que pouco vê nos raros encontros da parentada. E comigo não foi diferente.

Desde pequenina tinha uma quedinha por um primo meu, mas aqueles primos que você diz tudo menos que é seu parente; completamente diferente fisicamente, onde os laços familiares estão apenas nos sentimentos e na consideração, por que na genética não temos nada a ver: loiro, olhos claros, altura mediana e sempre “fortinho”- pra ser simpática e não dizer “gordinho” - nada a ver comigo!

Porém sou uma das poucas e felizes primas que realizaram o sonho infantil. Eu e meu primo tivemos um “caso familiar” que durou, entre encontros, idas e vindas, uns dois anos. Fiquei com o meu primo a primeira vez num dia de Natal - quer coisa mais família que essa?

Depois de um almoço familiar natalino, todos os primos da minha geração rumaram pra um barzinho, fui junto, e comemoramos o nascimento do menino Jesus de forma pouco ortodoxa, jogando bilhar e enchendo a cara. Meu querido primo tinha que me deixar em casa (estava de carona) e acabamos ficando juntos na porta da minha residência.

Já estava feliz com a minha conquista, mas nosso caso acabou tomando proporções inimagináveis: nos enrolamos durante anos! Nos encontrávamos de forma esporádica, sem compromisso nenhum, uma coisa saudável e gostosa de se sentir. Íamos tomar cerveja juntos, conheci seus amigos de balada e de faculdade. Gostávamos da companhia um do outro e isso nos fazia bem, pelo menos pra mim... eu acho!

Durante o tempo que ficamos juntos passamos por muitas coisas engraçadas, desde coisas amenas, como me banhar de cerveja num boteco da Paulista, ou atentar contra a saúde das nossas queridas tias-avós.

Digamos que não éramos muito discretos na nossa relação e nosso caso foi parar nos ouvidos nada surdos dos mais velhos da família. E a coisa passou bem de ouvido; um disse pro outro que disse pra um, e tomei conhecimento que toda família sabia pelas palavras da minha mãe:

- Filha, sua família toda já sabe de você e do seu primo.
- Como ficaram sabendo?
- Disso eu não sei! Só sei que uma das tias-avós chegou pra mim, no meio da missa de sétimo dia da irmã dela, e disse que sua bisavó deve estar se revirando no túmulo por vocês estarem juntos.

Como sabia que meu caso com meu primo não teria tanto futuro, nem liguei. Não era inconseqüência, era comodismo mesmo, confesso!

Continuamos nos encontrando, ficando e bebendo juntos. Fomos até a um aniversário de um primo nosso e quando a irmã dele - minha prima também - nos viu e falou: “Vocês perderam a vergonha na cara mesmo!”, e todos gargalharam daquela situação inusitada pelo moralismo familiar. Afinal de contas, até hoje não temos vergonha na cara!

Porém tudo que é legal acaba enjoando ou acaba simplesmente. E foi isso que aconteceu: acabou! Também, depois do que meu primo me fez passar...

Certa noite meu primo me liga:

- E aí, prima? Vamos sair? Tô te pegando na sua casa daqui a pouco.

Rumamos para um posto de gasolina para encontrar os amigos dele, lá as conversas foram regadas a vodca com energético, menos eu, que fiquei na água mesmo. Tinha acabado de sair de uma crise de sinusite e estava dopada de tanta amoxilina, e qualquer mistura alcoólica faria com que eu não respondesse por mim.

Depois de algumas horas de conversas animadas, eu era a única pessoa capaz de responder por mim ou por qualquer outro ser humano na face da Terra. Meu primo-amante já estava até meio deformado de tanto beber. Confesso que fiquei com medo daquela cara medonha e agradeci a Deus de saber o caminho de casa. Pois o teria que fazer isso sozinha.

Lá pelas tantas da madrugada me vi obrigada a carregar meu primo nos braços -tarefa difícil dado o peso e físico avantajado do meu querido parente. Consegui enfiar meu primo no carro dele – outro problema: como dirigir aquele carro? Aquilo lá não era um carro; era um caminhão perto do meu humilde carro mil!

Algum ser divino me guiou até minha casa, mas ao chegar, o que fazer? Deixar meu ficante dormindo no carro no meio da rua? Mas poxa, ele é meu primo? É da família! Não pode!

Respirei fundo recolhi as poucas forças que ainda tinha – grande parte dela tinha ido embora ao carregar meu primo do posto até o carro – e o levei até meu apartamento. Joguei aquela massa gorda e bêbada na minha cama e fui deitar na cama da minha mãe; sorte que ela estava viajando! Porém não consegui dormir, pois o moço deu bastante trabalho. O sol já raiava e meu primo vomitava.

Já era de tarde quando ele acordou, sem lembrar de nada. Viva a amnésia alcoólica!; pena que eu lembro de tudo!

Tive que arrumar os rastros deixados por ele: banheiro imundo, lençóis com cheiro etílico e uma imagem arranhada em proporções profundas. No dia seguinte ele me ligou pedindo desculpas de coisas que ele nem se lembrava! Sorte a dele que é da família. Se fosse qualquer outro Zé-Mané, não queria ver nem pintado de ouro fazendo polichinelo pelado na minha frente! Mas é aquela coisa: tá em família, tá em casa!

Marusquella

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Homem de Neardertal está entre nós

Podem dizer o que quiserem, mas garanto que a maioria das pessoas criadas por vó são super educadas; eu não sou uma exceção. Porém a educação dada pela minha querida avó tem suas peculiaridades. Ela me ensinou a ser comportada, educada, simpática, mas quando pisam no calo, jogue as boas maneiras pra longe e seja estúpida, grossa, só que sempre com elegância.

Tive que usar desses ensinamentos quando aceitei a proposta de ajudar um fotógrafo conhecido de uma amiga minha a incrementar seu portfólio.

Combinamos que faríamos as fotos num sábado de manhã e que ele iria me buscar no meu sagrado lar às 7 da manhã.

Como teria um compromisso “profissional” cedinho, recusei convites na sexta-feira, porém o mesmo não aconteceu com o dito fotógrafo. Ele chegou na hora marcada - até aí beleza – virado da balada, cheirando a fumaça e exalando uma moderada quantidade de álcool – nada legal isso! Que exemplo de profissional!

O dia nem tinha começado e eu já estava de saco cheio, isso porque não sabia o que estava por vir. Poxa! Eu deixei de sair pra fazer um trabalho e a recíproca não acontece?

Pedi ajuda pro aspirante a fotógrafo com as roupas que usaríamos no ensaio e ele entra na minha casa berrando, como se meu lar doce lar fosse a balada podre de onde vinha. O descanso da minha mãe, que dormia o sono dos justos e trabalhadores pagadores de impostos, foi interrompido e minha educação já tinha ido pras cucuias.

Porém minha paciência daquele dia acabou definitivamente ao conhecer um dos amiguinhos do aspirante a Mário Testino. Era um legítimo exemplar do homem de Neandertal, bombado e anencéfalo. Na hora reforcei minha teoria de que você conhece um homem realmente a partir dos amigos que ele tem.

Entrei no carro do homem das cavernas, que vinha da balada junto com o fotógrafo e que nos daria uma carona até o estúdio onde faríamos as fotos. Como uma aluna exemplar das aulas de etiqueta social, dei bom dia para o ser humano com idade mental inferior a 4 anos, e percebi que ele tinha passado dez vezes na fila dos “sem-noção”.

O curto percurso percorrido foi suficiente para eu relembrar os ensinamentos da minha saudosa avó: “Te falou algo desagradável, retruque com estupidez e classe!”.

- Nossa, como você é cheirosa! Melhor que esses marmanjos aqui do lado.
- Melhor assim do que com cheiro de balada e de bebida.
- O fotógrafo tinha razão. Você é bem bonita!
- Valeu.
- E uma mulher bonita assim não tem namorado?
- Não!
- E porque não?
- Sei lá, pergunta pros meus ex-namorados.
- Esses caras são uns idiotas de terem deixado você escapar. Mulher bonita não pode ficar sem namorado!
- E desde quando uma mulher é peixe pra escapar e só é feliz se tem namorado?

Ao ver que o clima não estava dos mais amistosos, o fotógrafo tentou desconversar:

- CD legal esse seu. Onde você arranjou?, perguntando para o motorista sem-noção,
- Uma mina que eu pegava gravou pra mim.

Indignada com o emprego de tal verbo para se referir a uma garota, retruquei:

- Mulher não se pega, se conquista!
- Ué, mas eu peguei ela umas duas vezes.
- Não importa quantas vezes você beijou a menina!
- Então é como? Catei? Comi?

Meu sentimento de indignação chegava ao seu nível máximo e nem respondi. Meu silêncio e minha cara amarrada pelo retrovisor eram evidências de que desaprovava a conduta primitiva, machista e retrógrada daquele descendente não evoluído do chimpanzé.

Pra minha felicidade, chegamos ao nosso destino, e infelicidade, tive que me despedir do chauffeur devorador de bananas. Ele dispara:

- Queria tanto te ver novamente...
- Vai ficar na vontade!
- Por quê?
- De exemplares diretos dos macacos não-evoluídos como você eu prefiro distância! E virei as costas.

As fotos foram feitas, o resultado ficou satisfatório, mas o que tirei de mais produtivo daquela manhã fatídica foi a certeza de que alguns homens têm salvação, mas outros não; esses não foram beneficiados com as mutações evolutivas positivas para o bom relacionamento com o sexo feminino.

Marusquella

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O bolo e o gringo

É o que diz a musiquinha: “Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”. É o que eu esperava do meu último sábado. Um carinha tudo de bom tinha me ligado na quarta-feira anterior combinando um encontro na noite do sábado, depois das 22 horas, quando o trabalho dele em um evento num shopping já teria acabado.

Pensei: beleza, umas 22h30 ele me liga. Até dar esse horário eu faço a unha, hidrato o cabelo, tomo um banho de diva pra estar à altura daquele belo exemplar de homem...

Mas estava enganada! Deu 23 horas e nada do cretino me ligar.A essa altura minha mãe já estava falando um monte:

- Acorda, menina, esse cara tem namorada!
- Não tem não, mãe. Ele só é enrolado.
- Ele está é te enrolando, isso sim!

Resolvi ligar pro cara. Afinal de contas tinha sido convidada pra outros dois programas, o show de uma banda de amigos meus e o aniversário da irmã de uma grande amiga minha numa casa de samba, e não ia deixar meu sábado passar em branco.

Liguei a primeira vez, caixa postal, a segunda, chama e ninguém me atende. Ahn, filho da mãe, agora você vai me atender nem que eu tenha que te ligar a noite inteira pra me dar nem que seja uma desculpa esfarrapada! Tentei a terceira vez, pra minha surpresa, o canalha atendeu:

- E aí, gata, beleza?
- Beleza! A gente vai sair?
- Poxa, meu, tô cansadão! Trabalhei um monte, parece que eu levei uma surra.
- Então a gente não vai sair?
- Ai, nem vai dar...
- Quer saber, vou agitar meu sábado!

E foi o que eu fiz! Não ia ficar o sábado que prometia tanta coisa passar sem eu ter feito nada. Decidi ir pra casa de samba, um lugar bem bacana, com pessoas legais que iriam me animar depois de levar um bolo homérico.

Me maquiei, botei um salto alto, peguei meu carro e fui; com a cara e a coragem de uma pessoa com nó na garganta de tanto ódio.

Rodei três vezes o quarteirão tentando achar um lugar pra estacionar o carro nas imediações do samba e fiquei mais de uma hora na fila pra entrar. A essa altura nada me faria voltar pra casa antes das 4 da manhã.

Já era domingo quando entrei no bar e encontrei minha amiga. E no percurso da entrada até a mesa onde ela estava eu já tinha ligado meu radar de homens interessantes para paquerar e flertar. E enquanto dançava atentei para um mocinho muito gatinho, bem apessoado, cabelo bem cortado, da minha altura de salto, ideal. Pensei: Gracinha você, hein?

Olhares, e o carinha não repara na minha existência, e nem reparo no sumiço repentino do rapaz. Acompanho minha amiga ao banheiro imundo do local, quando na fila quem eu encontro? O moço perdido! Ahn é agora! Quando ele sai, lanço aquele simples olhar que diz muita coisa e ele retribui meio tímido.

Volto pra pista de dança, danço, me canso, sento e me deparo com a presença do rapaz na minha diagonal. Troca de olhares, sorrisos sem graça, um flerte recíproco – adoro isso!. Ele sai da posição de escorar parede e segue em direção ao bar, mas reparo que ele muda de direção e me convida pra dançar. Uma explosão interna acontece dentro de mim. Poxa, ele não tinha dançado com ninguém! Só deu um passinhos pra lá e pra cá acompanhado de uma garrafa e de um copo de cerveja.

Dancei com o cara. Ele não era nenhum discípulo de Carlinhos de Jesus, mas sabia me levar, não tinha um gingado sensacional, mas me rodava de uma forma envolvente. Quando termina a música, a surpresa:

- Do you speak english?
- Quê?
- Você fala inglês?, com um sotaque bem forte
- I dont´t speak english. I just speak french. – Sou estudante de francês na FFLCH e não falava inglês há pelo menos 6 anos!
- But you speak english very weel. Can you talk with me in English?
- Oui – ops - Ok. I´ll try.

Outra música começou e voltamos a dançar. Ele me roda e eu perco o compasso:

- Excuse me! (Em francês, “desculpe” é “excusez-moi”)
- It´s: “I´m sorry”...

Vi que tinha cometido uma gafe. Minha vontade era de enfiar minha cabeça envergonhada no primeiro buraco que eu visse pela frente, mas me contentei em afundá-la no ombro direito do nova-iorquino.

Pra minha surpresa um beijo rolou, que foi seguidos de vários outros bem gostosos, embalados pelo samba de raiz que tocava no local.

Enquanto dançávamos e ríamos de mais uma gafe lingüística da minha parte (uma estudante de letras, que feio!), ele me abraça, me curva para o lado e me beija; aquelas cenas típicas de filmes românticos, onde o mocinho pega a mocinha nos braços e o beijo apaixonado sela a felicidade dos dois. Sempre sonhei que algum homem me beijasse desse jeito, e até então nunca nenhum tinha feito isso, nem se eu pedisse. E meu sonho foi realizado por um gringo bonito, simpático, carinhoso e gente boa, e eu nem precisei pedir, ele simplesmente o fez! Sensacional! Adorei!

Quando nos demos conta já era tarde, nossos amigos já tinham ido embora, o som tinha acabado e estávamos dançando mesmo sem nenhuma música.

- You like the brazilian music... but isn´t music now. – Atentei, com meu inglês macarrônico. Ele riu e continuamos a dançar. Pensei: que gringo é esse? Assim eu gamo! O cara gosta de dançar, é mais alto que eu, é formado, é divertido e ainda beija bem?!

O bar estava quase vazio quando fomos para a fila pagar a conta. Não pensei que era tão difícil pra um norte-americano falar a palavra “fila”, mas tudo bem. Rimos da sua dificuldade e saímos do local.

Na rua, passei meu celular. Ele riu do número - que é mesmo bizarro – e pediu o carro dele pro manobrista. Peguei meu carro na rua, dei um calote no flanelinha e estou aguardando o telefonema do gringo até hoje.

Em tão pouco tempo aqui no Brasil o nova-iorquino já sabe qual é a política masculina brasileira de pedir telefone na balada?: “Peça o telefone pra parecer educado!” Mas essa comigo não cola! Não importa a nacionalidade, homem é tudo igual! Se era pra não ligar, por que pediu meu telefone?

Marusquella

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Um dia no pagode e meu olho roxo

Gosto muito de rock. Minha banda do coração é Pink Floyd, mas não vivo sem Led, Doors, Purple... enfim... adoro os guitarristas, tocava guitarra quando adolescente, amo G3, essas coisas. E, como todo bom roqueiro, abomino pagode e suas derivações.

Acontece que eu estou “ficandinho” com um pagodeiro. O cara é muito do bem, tudo de bom e, apesar dessa história de pagode é o cara perfeito, um sonho de menino. Outro dia eu o levei a um bar de rock e ele se deu bem. Só que essa semana que passou tive que retribuir a generosidade dele e aceitei o convite de um programa com seus amigos pagodeiros.

O negócio era o seguinte... uma festa de 15 anos da filha de um amigo dele, importador de vinhos, evento chiquérrimo. Chegando lá, tudo estava bem... até que... um pagodeiro ultrafamoso apareceu na festa. Amicíssimo do meu “ficandinho”, me deu as boas vindas à “família”. Um cara super simpático, simples, alegre, inteligente. Ele disse que tinha um show às duas da manhã e nos convidou para sairmos da festa e irmos pra lá.

Por volta de uma da manhã, resolvemos sair. Deixamos o carro na festa e fomos de carona com o pagodeiro. Estávamos na Zona Leste e pegamos a Fernão Dias rumo a Mairiporã, onde ele faria um show em um clube.

Ele estava atrasado e, na entrada da cidade, passou correndo por uma valeta. Upa!! Todo mundo bateu a cabeça no teto e eu, que estava atrás do banco do motorista, bati o supercílio no suporte de pendurar dvd, que fica grudado no teto, do lado esquerdo, um pouco à frente do famoso “puta que pariu”. Bati com muita força, vi estrelas, perdi os sentidos e só voltei à realidade já dentro do clube, quando vi meu “ficandinho” desesperado com o gelo embrulhado no guardanapo e várias meninas ao meu redor espantadas:

- Minha nossa, está muito inchado, esse galo está enorme, ela vai ter que ir ao hospital...

Bem, não estava doendo muito. Recuperei o fôlego e me levantei. Coloquei o gelo na cabeça e o pessoal me chamou porque o show ia começar... fomos para o lado do palco. E aí, eis que ele entra no palco... e a mulherada foi ao delírio... e de repente olho para mim: lá estava eu, uma roqueira, anti cultura de massa, estudante da FFLCH, de roupa de gala, no meio do pagode, com um galo imenso, segurando um guardanapo cheio de gelo derretendo, a maquiagem borrada!!!! Que bafon!!

Enquanto as músicas mais lindas eram interpretadas por este grande artista, minha cabeça ia inchando em progressão geométrica. O povo sambando e meu cuco latejando. Começou a ficar roxo e a inchar o olho, além da testa. Eu, que sou muito bem humorada, comecei a fazer piadas de mim mesma. Estava parecendo o Corcunda de Notre-Dame do desenho da Disney. Observei que o pagodeiro em questão é um exímio orador e tem uma presença de palco incrível. É um grande artista, sem piadas e preconceitos de roqueira. Até me diverti. Também, era rir pra não chorar.

O show terminou e corremos para o carro, pois as fãs já estavam todas exaltadas correndo atrás do nosso astro. Ele entrou no carro ao meu lado, no banco de trás. Virou pra mim com os olhos arregalados:

- Menina roqueira!! Vamos para o hospital!

A essa altura eu já não conseguia mais abrir o olho esquerdo e minha testa e pálpebra já haviam tomado um tom azulado. O inchaço ultrapassava o tamanho de uma bola de pingue-pongue. Entraram muitos filhos do pagodeiro na Pajero, que ficou lotada. Era um no colo do outro e eu esmagada perdida ali no meio. E seguimos de volta para o local da festa de 15 anos para pegarmos o carro do meu “ficandinho”.

Mas o pessoal estava com fome. Decidiram parar para comer um cachorro-quente. Eu não queria, pois além de ser vegetariana, queria minha mãe urgente. Detalhe, ninguém tinha dinheiro para pagar a conta, eu tive que emprestar.

Bom, quando paramos para pegar o Pólo do meu “ficandinho” lá na Zona Leste, tinham roubado as calotas. E ainda fomos levar pra casa uma garota que morava nem lembro onde, só sei que era longe e demorou muito.

Quando cheguei em casa, o dia já tinha raiado. Entrei pela cozinha, de costas para minha mãe não se assustar muito. Não adiantou, ela quase teve um treco quando me viu. Aí sim, fui direto pro hospital. O resto do final de semana foi frustrante: observação, vômito e febre, antiinflamatório, compressas, Hirudoid, arnica..... só consegui abrir o olho na terça-feira. Estou com os dois olhos roxos, tive um derrame no olho esquerdo (está cheio de sangue) e minha melhor amiga se casa no sábado. Vou ao casamento lindíssima, uma diva de olho roxo.

Mériclaynes