quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Um dia no pagode e meu olho roxo

Gosto muito de rock. Minha banda do coração é Pink Floyd, mas não vivo sem Led, Doors, Purple... enfim... adoro os guitarristas, tocava guitarra quando adolescente, amo G3, essas coisas. E, como todo bom roqueiro, abomino pagode e suas derivações.

Acontece que eu estou “ficandinho” com um pagodeiro. O cara é muito do bem, tudo de bom e, apesar dessa história de pagode é o cara perfeito, um sonho de menino. Outro dia eu o levei a um bar de rock e ele se deu bem. Só que essa semana que passou tive que retribuir a generosidade dele e aceitei o convite de um programa com seus amigos pagodeiros.

O negócio era o seguinte... uma festa de 15 anos da filha de um amigo dele, importador de vinhos, evento chiquérrimo. Chegando lá, tudo estava bem... até que... um pagodeiro ultrafamoso apareceu na festa. Amicíssimo do meu “ficandinho”, me deu as boas vindas à “família”. Um cara super simpático, simples, alegre, inteligente. Ele disse que tinha um show às duas da manhã e nos convidou para sairmos da festa e irmos pra lá.

Por volta de uma da manhã, resolvemos sair. Deixamos o carro na festa e fomos de carona com o pagodeiro. Estávamos na Zona Leste e pegamos a Fernão Dias rumo a Mairiporã, onde ele faria um show em um clube.

Ele estava atrasado e, na entrada da cidade, passou correndo por uma valeta. Upa!! Todo mundo bateu a cabeça no teto e eu, que estava atrás do banco do motorista, bati o supercílio no suporte de pendurar dvd, que fica grudado no teto, do lado esquerdo, um pouco à frente do famoso “puta que pariu”. Bati com muita força, vi estrelas, perdi os sentidos e só voltei à realidade já dentro do clube, quando vi meu “ficandinho” desesperado com o gelo embrulhado no guardanapo e várias meninas ao meu redor espantadas:

- Minha nossa, está muito inchado, esse galo está enorme, ela vai ter que ir ao hospital...

Bem, não estava doendo muito. Recuperei o fôlego e me levantei. Coloquei o gelo na cabeça e o pessoal me chamou porque o show ia começar... fomos para o lado do palco. E aí, eis que ele entra no palco... e a mulherada foi ao delírio... e de repente olho para mim: lá estava eu, uma roqueira, anti cultura de massa, estudante da FFLCH, de roupa de gala, no meio do pagode, com um galo imenso, segurando um guardanapo cheio de gelo derretendo, a maquiagem borrada!!!! Que bafon!!

Enquanto as músicas mais lindas eram interpretadas por este grande artista, minha cabeça ia inchando em progressão geométrica. O povo sambando e meu cuco latejando. Começou a ficar roxo e a inchar o olho, além da testa. Eu, que sou muito bem humorada, comecei a fazer piadas de mim mesma. Estava parecendo o Corcunda de Notre-Dame do desenho da Disney. Observei que o pagodeiro em questão é um exímio orador e tem uma presença de palco incrível. É um grande artista, sem piadas e preconceitos de roqueira. Até me diverti. Também, era rir pra não chorar.

O show terminou e corremos para o carro, pois as fãs já estavam todas exaltadas correndo atrás do nosso astro. Ele entrou no carro ao meu lado, no banco de trás. Virou pra mim com os olhos arregalados:

- Menina roqueira!! Vamos para o hospital!

A essa altura eu já não conseguia mais abrir o olho esquerdo e minha testa e pálpebra já haviam tomado um tom azulado. O inchaço ultrapassava o tamanho de uma bola de pingue-pongue. Entraram muitos filhos do pagodeiro na Pajero, que ficou lotada. Era um no colo do outro e eu esmagada perdida ali no meio. E seguimos de volta para o local da festa de 15 anos para pegarmos o carro do meu “ficandinho”.

Mas o pessoal estava com fome. Decidiram parar para comer um cachorro-quente. Eu não queria, pois além de ser vegetariana, queria minha mãe urgente. Detalhe, ninguém tinha dinheiro para pagar a conta, eu tive que emprestar.

Bom, quando paramos para pegar o Pólo do meu “ficandinho” lá na Zona Leste, tinham roubado as calotas. E ainda fomos levar pra casa uma garota que morava nem lembro onde, só sei que era longe e demorou muito.

Quando cheguei em casa, o dia já tinha raiado. Entrei pela cozinha, de costas para minha mãe não se assustar muito. Não adiantou, ela quase teve um treco quando me viu. Aí sim, fui direto pro hospital. O resto do final de semana foi frustrante: observação, vômito e febre, antiinflamatório, compressas, Hirudoid, arnica..... só consegui abrir o olho na terça-feira. Estou com os dois olhos roxos, tive um derrame no olho esquerdo (está cheio de sangue) e minha melhor amiga se casa no sábado. Vou ao casamento lindíssima, uma diva de olho roxo.

Mériclaynes

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