sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Tá em família, tá em casa

A maioria das garotas, salvo algumas exceções, já tiveram algum sonho com um primo, nem que seja nos remotos e românticos tempos de adolescência. Pode ser aquele familiar distante que pouco vê nos raros encontros da parentada. E comigo não foi diferente.

Desde pequenina tinha uma quedinha por um primo meu, mas aqueles primos que você diz tudo menos que é seu parente; completamente diferente fisicamente, onde os laços familiares estão apenas nos sentimentos e na consideração, por que na genética não temos nada a ver: loiro, olhos claros, altura mediana e sempre “fortinho”- pra ser simpática e não dizer “gordinho” - nada a ver comigo!

Porém sou uma das poucas e felizes primas que realizaram o sonho infantil. Eu e meu primo tivemos um “caso familiar” que durou, entre encontros, idas e vindas, uns dois anos. Fiquei com o meu primo a primeira vez num dia de Natal - quer coisa mais família que essa?

Depois de um almoço familiar natalino, todos os primos da minha geração rumaram pra um barzinho, fui junto, e comemoramos o nascimento do menino Jesus de forma pouco ortodoxa, jogando bilhar e enchendo a cara. Meu querido primo tinha que me deixar em casa (estava de carona) e acabamos ficando juntos na porta da minha residência.

Já estava feliz com a minha conquista, mas nosso caso acabou tomando proporções inimagináveis: nos enrolamos durante anos! Nos encontrávamos de forma esporádica, sem compromisso nenhum, uma coisa saudável e gostosa de se sentir. Íamos tomar cerveja juntos, conheci seus amigos de balada e de faculdade. Gostávamos da companhia um do outro e isso nos fazia bem, pelo menos pra mim... eu acho!

Durante o tempo que ficamos juntos passamos por muitas coisas engraçadas, desde coisas amenas, como me banhar de cerveja num boteco da Paulista, ou atentar contra a saúde das nossas queridas tias-avós.

Digamos que não éramos muito discretos na nossa relação e nosso caso foi parar nos ouvidos nada surdos dos mais velhos da família. E a coisa passou bem de ouvido; um disse pro outro que disse pra um, e tomei conhecimento que toda família sabia pelas palavras da minha mãe:

- Filha, sua família toda já sabe de você e do seu primo.
- Como ficaram sabendo?
- Disso eu não sei! Só sei que uma das tias-avós chegou pra mim, no meio da missa de sétimo dia da irmã dela, e disse que sua bisavó deve estar se revirando no túmulo por vocês estarem juntos.

Como sabia que meu caso com meu primo não teria tanto futuro, nem liguei. Não era inconseqüência, era comodismo mesmo, confesso!

Continuamos nos encontrando, ficando e bebendo juntos. Fomos até a um aniversário de um primo nosso e quando a irmã dele - minha prima também - nos viu e falou: “Vocês perderam a vergonha na cara mesmo!”, e todos gargalharam daquela situação inusitada pelo moralismo familiar. Afinal de contas, até hoje não temos vergonha na cara!

Porém tudo que é legal acaba enjoando ou acaba simplesmente. E foi isso que aconteceu: acabou! Também, depois do que meu primo me fez passar...

Certa noite meu primo me liga:

- E aí, prima? Vamos sair? Tô te pegando na sua casa daqui a pouco.

Rumamos para um posto de gasolina para encontrar os amigos dele, lá as conversas foram regadas a vodca com energético, menos eu, que fiquei na água mesmo. Tinha acabado de sair de uma crise de sinusite e estava dopada de tanta amoxilina, e qualquer mistura alcoólica faria com que eu não respondesse por mim.

Depois de algumas horas de conversas animadas, eu era a única pessoa capaz de responder por mim ou por qualquer outro ser humano na face da Terra. Meu primo-amante já estava até meio deformado de tanto beber. Confesso que fiquei com medo daquela cara medonha e agradeci a Deus de saber o caminho de casa. Pois o teria que fazer isso sozinha.

Lá pelas tantas da madrugada me vi obrigada a carregar meu primo nos braços -tarefa difícil dado o peso e físico avantajado do meu querido parente. Consegui enfiar meu primo no carro dele – outro problema: como dirigir aquele carro? Aquilo lá não era um carro; era um caminhão perto do meu humilde carro mil!

Algum ser divino me guiou até minha casa, mas ao chegar, o que fazer? Deixar meu ficante dormindo no carro no meio da rua? Mas poxa, ele é meu primo? É da família! Não pode!

Respirei fundo recolhi as poucas forças que ainda tinha – grande parte dela tinha ido embora ao carregar meu primo do posto até o carro – e o levei até meu apartamento. Joguei aquela massa gorda e bêbada na minha cama e fui deitar na cama da minha mãe; sorte que ela estava viajando! Porém não consegui dormir, pois o moço deu bastante trabalho. O sol já raiava e meu primo vomitava.

Já era de tarde quando ele acordou, sem lembrar de nada. Viva a amnésia alcoólica!; pena que eu lembro de tudo!

Tive que arrumar os rastros deixados por ele: banheiro imundo, lençóis com cheiro etílico e uma imagem arranhada em proporções profundas. No dia seguinte ele me ligou pedindo desculpas de coisas que ele nem se lembrava! Sorte a dele que é da família. Se fosse qualquer outro Zé-Mané, não queria ver nem pintado de ouro fazendo polichinelo pelado na minha frente! Mas é aquela coisa: tá em família, tá em casa!

Marusquella

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Homem de Neardertal está entre nós

Podem dizer o que quiserem, mas garanto que a maioria das pessoas criadas por vó são super educadas; eu não sou uma exceção. Porém a educação dada pela minha querida avó tem suas peculiaridades. Ela me ensinou a ser comportada, educada, simpática, mas quando pisam no calo, jogue as boas maneiras pra longe e seja estúpida, grossa, só que sempre com elegância.

Tive que usar desses ensinamentos quando aceitei a proposta de ajudar um fotógrafo conhecido de uma amiga minha a incrementar seu portfólio.

Combinamos que faríamos as fotos num sábado de manhã e que ele iria me buscar no meu sagrado lar às 7 da manhã.

Como teria um compromisso “profissional” cedinho, recusei convites na sexta-feira, porém o mesmo não aconteceu com o dito fotógrafo. Ele chegou na hora marcada - até aí beleza – virado da balada, cheirando a fumaça e exalando uma moderada quantidade de álcool – nada legal isso! Que exemplo de profissional!

O dia nem tinha começado e eu já estava de saco cheio, isso porque não sabia o que estava por vir. Poxa! Eu deixei de sair pra fazer um trabalho e a recíproca não acontece?

Pedi ajuda pro aspirante a fotógrafo com as roupas que usaríamos no ensaio e ele entra na minha casa berrando, como se meu lar doce lar fosse a balada podre de onde vinha. O descanso da minha mãe, que dormia o sono dos justos e trabalhadores pagadores de impostos, foi interrompido e minha educação já tinha ido pras cucuias.

Porém minha paciência daquele dia acabou definitivamente ao conhecer um dos amiguinhos do aspirante a Mário Testino. Era um legítimo exemplar do homem de Neandertal, bombado e anencéfalo. Na hora reforcei minha teoria de que você conhece um homem realmente a partir dos amigos que ele tem.

Entrei no carro do homem das cavernas, que vinha da balada junto com o fotógrafo e que nos daria uma carona até o estúdio onde faríamos as fotos. Como uma aluna exemplar das aulas de etiqueta social, dei bom dia para o ser humano com idade mental inferior a 4 anos, e percebi que ele tinha passado dez vezes na fila dos “sem-noção”.

O curto percurso percorrido foi suficiente para eu relembrar os ensinamentos da minha saudosa avó: “Te falou algo desagradável, retruque com estupidez e classe!”.

- Nossa, como você é cheirosa! Melhor que esses marmanjos aqui do lado.
- Melhor assim do que com cheiro de balada e de bebida.
- O fotógrafo tinha razão. Você é bem bonita!
- Valeu.
- E uma mulher bonita assim não tem namorado?
- Não!
- E porque não?
- Sei lá, pergunta pros meus ex-namorados.
- Esses caras são uns idiotas de terem deixado você escapar. Mulher bonita não pode ficar sem namorado!
- E desde quando uma mulher é peixe pra escapar e só é feliz se tem namorado?

Ao ver que o clima não estava dos mais amistosos, o fotógrafo tentou desconversar:

- CD legal esse seu. Onde você arranjou?, perguntando para o motorista sem-noção,
- Uma mina que eu pegava gravou pra mim.

Indignada com o emprego de tal verbo para se referir a uma garota, retruquei:

- Mulher não se pega, se conquista!
- Ué, mas eu peguei ela umas duas vezes.
- Não importa quantas vezes você beijou a menina!
- Então é como? Catei? Comi?

Meu sentimento de indignação chegava ao seu nível máximo e nem respondi. Meu silêncio e minha cara amarrada pelo retrovisor eram evidências de que desaprovava a conduta primitiva, machista e retrógrada daquele descendente não evoluído do chimpanzé.

Pra minha felicidade, chegamos ao nosso destino, e infelicidade, tive que me despedir do chauffeur devorador de bananas. Ele dispara:

- Queria tanto te ver novamente...
- Vai ficar na vontade!
- Por quê?
- De exemplares diretos dos macacos não-evoluídos como você eu prefiro distância! E virei as costas.

As fotos foram feitas, o resultado ficou satisfatório, mas o que tirei de mais produtivo daquela manhã fatídica foi a certeza de que alguns homens têm salvação, mas outros não; esses não foram beneficiados com as mutações evolutivas positivas para o bom relacionamento com o sexo feminino.

Marusquella

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O bolo e o gringo

É o que diz a musiquinha: “Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”. É o que eu esperava do meu último sábado. Um carinha tudo de bom tinha me ligado na quarta-feira anterior combinando um encontro na noite do sábado, depois das 22 horas, quando o trabalho dele em um evento num shopping já teria acabado.

Pensei: beleza, umas 22h30 ele me liga. Até dar esse horário eu faço a unha, hidrato o cabelo, tomo um banho de diva pra estar à altura daquele belo exemplar de homem...

Mas estava enganada! Deu 23 horas e nada do cretino me ligar.A essa altura minha mãe já estava falando um monte:

- Acorda, menina, esse cara tem namorada!
- Não tem não, mãe. Ele só é enrolado.
- Ele está é te enrolando, isso sim!

Resolvi ligar pro cara. Afinal de contas tinha sido convidada pra outros dois programas, o show de uma banda de amigos meus e o aniversário da irmã de uma grande amiga minha numa casa de samba, e não ia deixar meu sábado passar em branco.

Liguei a primeira vez, caixa postal, a segunda, chama e ninguém me atende. Ahn, filho da mãe, agora você vai me atender nem que eu tenha que te ligar a noite inteira pra me dar nem que seja uma desculpa esfarrapada! Tentei a terceira vez, pra minha surpresa, o canalha atendeu:

- E aí, gata, beleza?
- Beleza! A gente vai sair?
- Poxa, meu, tô cansadão! Trabalhei um monte, parece que eu levei uma surra.
- Então a gente não vai sair?
- Ai, nem vai dar...
- Quer saber, vou agitar meu sábado!

E foi o que eu fiz! Não ia ficar o sábado que prometia tanta coisa passar sem eu ter feito nada. Decidi ir pra casa de samba, um lugar bem bacana, com pessoas legais que iriam me animar depois de levar um bolo homérico.

Me maquiei, botei um salto alto, peguei meu carro e fui; com a cara e a coragem de uma pessoa com nó na garganta de tanto ódio.

Rodei três vezes o quarteirão tentando achar um lugar pra estacionar o carro nas imediações do samba e fiquei mais de uma hora na fila pra entrar. A essa altura nada me faria voltar pra casa antes das 4 da manhã.

Já era domingo quando entrei no bar e encontrei minha amiga. E no percurso da entrada até a mesa onde ela estava eu já tinha ligado meu radar de homens interessantes para paquerar e flertar. E enquanto dançava atentei para um mocinho muito gatinho, bem apessoado, cabelo bem cortado, da minha altura de salto, ideal. Pensei: Gracinha você, hein?

Olhares, e o carinha não repara na minha existência, e nem reparo no sumiço repentino do rapaz. Acompanho minha amiga ao banheiro imundo do local, quando na fila quem eu encontro? O moço perdido! Ahn é agora! Quando ele sai, lanço aquele simples olhar que diz muita coisa e ele retribui meio tímido.

Volto pra pista de dança, danço, me canso, sento e me deparo com a presença do rapaz na minha diagonal. Troca de olhares, sorrisos sem graça, um flerte recíproco – adoro isso!. Ele sai da posição de escorar parede e segue em direção ao bar, mas reparo que ele muda de direção e me convida pra dançar. Uma explosão interna acontece dentro de mim. Poxa, ele não tinha dançado com ninguém! Só deu um passinhos pra lá e pra cá acompanhado de uma garrafa e de um copo de cerveja.

Dancei com o cara. Ele não era nenhum discípulo de Carlinhos de Jesus, mas sabia me levar, não tinha um gingado sensacional, mas me rodava de uma forma envolvente. Quando termina a música, a surpresa:

- Do you speak english?
- Quê?
- Você fala inglês?, com um sotaque bem forte
- I dont´t speak english. I just speak french. – Sou estudante de francês na FFLCH e não falava inglês há pelo menos 6 anos!
- But you speak english very weel. Can you talk with me in English?
- Oui – ops - Ok. I´ll try.

Outra música começou e voltamos a dançar. Ele me roda e eu perco o compasso:

- Excuse me! (Em francês, “desculpe” é “excusez-moi”)
- It´s: “I´m sorry”...

Vi que tinha cometido uma gafe. Minha vontade era de enfiar minha cabeça envergonhada no primeiro buraco que eu visse pela frente, mas me contentei em afundá-la no ombro direito do nova-iorquino.

Pra minha surpresa um beijo rolou, que foi seguidos de vários outros bem gostosos, embalados pelo samba de raiz que tocava no local.

Enquanto dançávamos e ríamos de mais uma gafe lingüística da minha parte (uma estudante de letras, que feio!), ele me abraça, me curva para o lado e me beija; aquelas cenas típicas de filmes românticos, onde o mocinho pega a mocinha nos braços e o beijo apaixonado sela a felicidade dos dois. Sempre sonhei que algum homem me beijasse desse jeito, e até então nunca nenhum tinha feito isso, nem se eu pedisse. E meu sonho foi realizado por um gringo bonito, simpático, carinhoso e gente boa, e eu nem precisei pedir, ele simplesmente o fez! Sensacional! Adorei!

Quando nos demos conta já era tarde, nossos amigos já tinham ido embora, o som tinha acabado e estávamos dançando mesmo sem nenhuma música.

- You like the brazilian music... but isn´t music now. – Atentei, com meu inglês macarrônico. Ele riu e continuamos a dançar. Pensei: que gringo é esse? Assim eu gamo! O cara gosta de dançar, é mais alto que eu, é formado, é divertido e ainda beija bem?!

O bar estava quase vazio quando fomos para a fila pagar a conta. Não pensei que era tão difícil pra um norte-americano falar a palavra “fila”, mas tudo bem. Rimos da sua dificuldade e saímos do local.

Na rua, passei meu celular. Ele riu do número - que é mesmo bizarro – e pediu o carro dele pro manobrista. Peguei meu carro na rua, dei um calote no flanelinha e estou aguardando o telefonema do gringo até hoje.

Em tão pouco tempo aqui no Brasil o nova-iorquino já sabe qual é a política masculina brasileira de pedir telefone na balada?: “Peça o telefone pra parecer educado!” Mas essa comigo não cola! Não importa a nacionalidade, homem é tudo igual! Se era pra não ligar, por que pediu meu telefone?

Marusquella

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Um dia no pagode e meu olho roxo

Gosto muito de rock. Minha banda do coração é Pink Floyd, mas não vivo sem Led, Doors, Purple... enfim... adoro os guitarristas, tocava guitarra quando adolescente, amo G3, essas coisas. E, como todo bom roqueiro, abomino pagode e suas derivações.

Acontece que eu estou “ficandinho” com um pagodeiro. O cara é muito do bem, tudo de bom e, apesar dessa história de pagode é o cara perfeito, um sonho de menino. Outro dia eu o levei a um bar de rock e ele se deu bem. Só que essa semana que passou tive que retribuir a generosidade dele e aceitei o convite de um programa com seus amigos pagodeiros.

O negócio era o seguinte... uma festa de 15 anos da filha de um amigo dele, importador de vinhos, evento chiquérrimo. Chegando lá, tudo estava bem... até que... um pagodeiro ultrafamoso apareceu na festa. Amicíssimo do meu “ficandinho”, me deu as boas vindas à “família”. Um cara super simpático, simples, alegre, inteligente. Ele disse que tinha um show às duas da manhã e nos convidou para sairmos da festa e irmos pra lá.

Por volta de uma da manhã, resolvemos sair. Deixamos o carro na festa e fomos de carona com o pagodeiro. Estávamos na Zona Leste e pegamos a Fernão Dias rumo a Mairiporã, onde ele faria um show em um clube.

Ele estava atrasado e, na entrada da cidade, passou correndo por uma valeta. Upa!! Todo mundo bateu a cabeça no teto e eu, que estava atrás do banco do motorista, bati o supercílio no suporte de pendurar dvd, que fica grudado no teto, do lado esquerdo, um pouco à frente do famoso “puta que pariu”. Bati com muita força, vi estrelas, perdi os sentidos e só voltei à realidade já dentro do clube, quando vi meu “ficandinho” desesperado com o gelo embrulhado no guardanapo e várias meninas ao meu redor espantadas:

- Minha nossa, está muito inchado, esse galo está enorme, ela vai ter que ir ao hospital...

Bem, não estava doendo muito. Recuperei o fôlego e me levantei. Coloquei o gelo na cabeça e o pessoal me chamou porque o show ia começar... fomos para o lado do palco. E aí, eis que ele entra no palco... e a mulherada foi ao delírio... e de repente olho para mim: lá estava eu, uma roqueira, anti cultura de massa, estudante da FFLCH, de roupa de gala, no meio do pagode, com um galo imenso, segurando um guardanapo cheio de gelo derretendo, a maquiagem borrada!!!! Que bafon!!

Enquanto as músicas mais lindas eram interpretadas por este grande artista, minha cabeça ia inchando em progressão geométrica. O povo sambando e meu cuco latejando. Começou a ficar roxo e a inchar o olho, além da testa. Eu, que sou muito bem humorada, comecei a fazer piadas de mim mesma. Estava parecendo o Corcunda de Notre-Dame do desenho da Disney. Observei que o pagodeiro em questão é um exímio orador e tem uma presença de palco incrível. É um grande artista, sem piadas e preconceitos de roqueira. Até me diverti. Também, era rir pra não chorar.

O show terminou e corremos para o carro, pois as fãs já estavam todas exaltadas correndo atrás do nosso astro. Ele entrou no carro ao meu lado, no banco de trás. Virou pra mim com os olhos arregalados:

- Menina roqueira!! Vamos para o hospital!

A essa altura eu já não conseguia mais abrir o olho esquerdo e minha testa e pálpebra já haviam tomado um tom azulado. O inchaço ultrapassava o tamanho de uma bola de pingue-pongue. Entraram muitos filhos do pagodeiro na Pajero, que ficou lotada. Era um no colo do outro e eu esmagada perdida ali no meio. E seguimos de volta para o local da festa de 15 anos para pegarmos o carro do meu “ficandinho”.

Mas o pessoal estava com fome. Decidiram parar para comer um cachorro-quente. Eu não queria, pois além de ser vegetariana, queria minha mãe urgente. Detalhe, ninguém tinha dinheiro para pagar a conta, eu tive que emprestar.

Bom, quando paramos para pegar o Pólo do meu “ficandinho” lá na Zona Leste, tinham roubado as calotas. E ainda fomos levar pra casa uma garota que morava nem lembro onde, só sei que era longe e demorou muito.

Quando cheguei em casa, o dia já tinha raiado. Entrei pela cozinha, de costas para minha mãe não se assustar muito. Não adiantou, ela quase teve um treco quando me viu. Aí sim, fui direto pro hospital. O resto do final de semana foi frustrante: observação, vômito e febre, antiinflamatório, compressas, Hirudoid, arnica..... só consegui abrir o olho na terça-feira. Estou com os dois olhos roxos, tive um derrame no olho esquerdo (está cheio de sangue) e minha melhor amiga se casa no sábado. Vou ao casamento lindíssima, uma diva de olho roxo.

Mériclaynes