É o que diz a musiquinha: “Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”. É o que eu esperava do meu último sábado. Um carinha tudo de bom tinha me ligado na quarta-feira anterior combinando um encontro na noite do sábado, depois das 22 horas, quando o trabalho dele em um evento num shopping já teria acabado.
Pensei: beleza, umas 22h30 ele me liga. Até dar esse horário eu faço a unha, hidrato o cabelo, tomo um banho de diva pra estar à altura daquele belo exemplar de homem...
Mas estava enganada! Deu 23 horas e nada do cretino me ligar.A essa altura minha mãe já estava falando um monte:
- Acorda, menina, esse cara tem namorada!
- Não tem não, mãe. Ele só é enrolado.
- Ele está é te enrolando, isso sim!
Resolvi ligar pro cara. Afinal de contas tinha sido convidada pra outros dois programas, o show de uma banda de amigos meus e o aniversário da irmã de uma grande amiga minha numa casa de samba, e não ia deixar meu sábado passar em branco.
Liguei a primeira vez, caixa postal, a segunda, chama e ninguém me atende. Ahn, filho da mãe, agora você vai me atender nem que eu tenha que te ligar a noite inteira pra me dar nem que seja uma desculpa esfarrapada! Tentei a terceira vez, pra minha surpresa, o canalha atendeu:
- E aí, gata, beleza?
- Beleza! A gente vai sair?
- Poxa, meu, tô cansadão! Trabalhei um monte, parece que eu levei uma surra.
- Então a gente não vai sair?
- Ai, nem vai dar...
- Quer saber, vou agitar meu sábado!
E foi o que eu fiz! Não ia ficar o sábado que prometia tanta coisa passar sem eu ter feito nada. Decidi ir pra casa de samba, um lugar bem bacana, com pessoas legais que iriam me animar depois de levar um bolo homérico.
Me maquiei, botei um salto alto, peguei meu carro e fui; com a cara e a coragem de uma pessoa com nó na garganta de tanto ódio.
Rodei três vezes o quarteirão tentando achar um lugar pra estacionar o carro nas imediações do samba e fiquei mais de uma hora na fila pra entrar. A essa altura nada me faria voltar pra casa antes das 4 da manhã.
Já era domingo quando entrei no bar e encontrei minha amiga. E no percurso da entrada até a mesa onde ela estava eu já tinha ligado meu radar de homens interessantes para paquerar e flertar. E enquanto dançava atentei para um mocinho muito gatinho, bem apessoado, cabelo bem cortado, da minha altura de salto, ideal. Pensei: Gracinha você, hein?
Olhares, e o carinha não repara na minha existência, e nem reparo no sumiço repentino do rapaz. Acompanho minha amiga ao banheiro imundo do local, quando na fila quem eu encontro? O moço perdido! Ahn é agora! Quando ele sai, lanço aquele simples olhar que diz muita coisa e ele retribui meio tímido.
Volto pra pista de dança, danço, me canso, sento e me deparo com a presença do rapaz na minha diagonal. Troca de olhares, sorrisos sem graça, um flerte recíproco – adoro isso!. Ele sai da posição de escorar parede e segue em direção ao bar, mas reparo que ele muda de direção e me convida pra dançar. Uma explosão interna acontece dentro de mim. Poxa, ele não tinha dançado com ninguém! Só deu um passinhos pra lá e pra cá acompanhado de uma garrafa e de um copo de cerveja.
Dancei com o cara. Ele não era nenhum discípulo de Carlinhos de Jesus, mas sabia me levar, não tinha um gingado sensacional, mas me rodava de uma forma envolvente. Quando termina a música, a surpresa:
- Do you speak english?
- Quê?
- Você fala inglês?, com um sotaque bem forte
- I dont´t speak english. I just speak french. – Sou estudante de francês na FFLCH e não falava inglês há pelo menos 6 anos!
- But you speak english very weel. Can you talk with me in English?
- Oui – ops - Ok. I´ll try.
Outra música começou e voltamos a dançar. Ele me roda e eu perco o compasso:
- Excuse me! (Em francês, “desculpe” é “excusez-moi”)
- It´s: “I´m sorry”...
Vi que tinha cometido uma gafe. Minha vontade era de enfiar minha cabeça envergonhada no primeiro buraco que eu visse pela frente, mas me contentei em afundá-la no ombro direito do nova-iorquino.
Pra minha surpresa um beijo rolou, que foi seguidos de vários outros bem gostosos, embalados pelo samba de raiz que tocava no local.
Enquanto dançávamos e ríamos de mais uma gafe lingüística da minha parte (uma estudante de letras, que feio!), ele me abraça, me curva para o lado e me beija; aquelas cenas típicas de filmes românticos, onde o mocinho pega a mocinha nos braços e o beijo apaixonado sela a felicidade dos dois. Sempre sonhei que algum homem me beijasse desse jeito, e até então nunca nenhum tinha feito isso, nem se eu pedisse. E meu sonho foi realizado por um gringo bonito, simpático, carinhoso e gente boa, e eu nem precisei pedir, ele simplesmente o fez! Sensacional! Adorei!
Quando nos demos conta já era tarde, nossos amigos já tinham ido embora, o som tinha acabado e estávamos dançando mesmo sem nenhuma música.
- You like the brazilian music... but isn´t music now. – Atentei, com meu inglês macarrônico. Ele riu e continuamos a dançar. Pensei: que gringo é esse? Assim eu gamo! O cara gosta de dançar, é mais alto que eu, é formado, é divertido e ainda beija bem?!
O bar estava quase vazio quando fomos para a fila pagar a conta. Não pensei que era tão difícil pra um norte-americano falar a palavra “fila”, mas tudo bem. Rimos da sua dificuldade e saímos do local.
Na rua, passei meu celular. Ele riu do número - que é mesmo bizarro – e pediu o carro dele pro manobrista. Peguei meu carro na rua, dei um calote no flanelinha e estou aguardando o telefonema do gringo até hoje.
Em tão pouco tempo aqui no Brasil o nova-iorquino já sabe qual é a política masculina brasileira de pedir telefone na balada?: “Peça o telefone pra parecer educado!” Mas essa comigo não cola! Não importa a nacionalidade, homem é tudo igual! Se era pra não ligar, por que pediu meu telefone?
Marusquella
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